CENTRO DE TECNOLOGIA DE VEÍCULOS HÍBRIDOS E ELÉTRICOS DO SISTEMA FIEP

Texto: Valério M. Marochi

Fotos: Divulgação

Na matéria passada, falamos sobre a eletromobilidade, levando em consideração os problemas urbanos e as oportunidades no segmento automotivo, bem como sua perspectiva de evolução no Brasil. Antes de nos aprofundarmos no assunto, falando de arquiteturas veiculares, infraestrutura, segurança e etc., é importante sabermos como a história dos carros elétricos começou (e terminou, e começou de novo, e assim por diante).

Linha do tempo interrompida

Para quem acha que os veículos elétricos são uma novidade, aqui vai uma revelação: os primeiros modelos datam de meados do século XIX! Numa época em que o ápice tecnológico era a máquina a vapor, as novas descobertas, motores a combustão interna e motores elétricos, estavam praticamente no mesmo nível. Esta é considerada a primeira era dos veículos elétricos, que dividiram as ruas com carroças, carros a vapor e a combustão interna. Entre 1890 e 1905, os elétricos chegaram a dominar o mercado de automóveis, pois eram mais limpos, silenciosos e fáceis de dar a partida, além de mais velozes que os concorrentes, afinal o primeiro automóvel a exceder 100 km/h era elétrico (figura abaixo).

Após 1920, a disputa foi vencida pelo motor a combustão interna, pois a gasolina era abundante e a crescente infraestrutura de postos de combustível pelo mundo permitia que chegassem mais longe, causando o fim da primeira era dos carros elétricos, com o fechamento da maioria dos fabricantes vindo a ocorrer no período da crise de 1929.

Tecnologia de emergência

Um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, os veículos elétricos foram ‘ressuscitados’, dando início à segunda era, que durou até o fim dos anos 1980. A guerra trouxe a escassez de petróleo, e as grandes potências do mundo se viram forçadas a encontrar alternativas para driblar seus problemas com transportes. Todo combustível disponível era destinado à guerra, e os veículos elétricos voltaram a popular as ruas no mundo todo, transportando pessoas e bens de consumo. A guerra acabou em 1945, a disponibilidade de combustível aumentou e, novamente, a maioria dos fabricantes de carros elétricos fecharam as portas, pois o problema de baixa autonomia e vida útil muito curta das baterias – em média 2 anos – persistia.

As décadas de 60 e 70 foram marcadas por guerras e crises do petróleo e, em menor grau de importância, pelas primeiras preocupações ambientais. Esses fatores levaram a maioria dos fabricantes de veículos a um período de ‘experimentos’, em busca de sistemas de propulsão alternativos e novas tecnologias. Embora alguns modelos elétricos e híbridos tenham surgido nessa época, nem todas as soluções tomaram o caminho da eletrificação, como é o caso do Proálcool no Brasil, que visava a substituição de combustíveis derivados de petróleo por um combustível menos poluente e renovável, o álcool combustível. Porém, seja por questões políticas e econômicas ou por falta de prontidão tecnológica, novamente o carro elétrico foi colocado na gaveta e, no final da década de 80, perdeu espaço para motores a combustão interna com sistemas de gerenciamento eletrônico.

Para o alto e avante

A partir de 1990, a eletrônica deu um salto tecnológico e as preocupações ambientais tornaram-se o foco da maioria das nações, devido aos impactos no clima e na saúde da população, além da degradação dos recursos. Surgiram então acordos climáticos e legislações de emissões poluentes extremamente severas. Para cumprir tais normas, a indústria automotiva passou a investir mais em pesquisa e desenvolvimento de sistemas com foco no aumento da eficiência energética e no controle de emissões, levando os motores a combustão ao limite da sua tecnologia. Inicia-se então a terceira era dos veículos elétricos, que perdura até os dias de hoje, marcada pela quebra de paradigmas e pela visão sustentável.

A tecnologia de baterias, por exemplo, que sempre foi o problema central dos carros elétricos, evoluiu muito nas últimas décadas, aumentando sua autonomia e tornando-os mais competitivos.

Nestes 30 anos do ‘renascimento’ dos veículos elétricos, mesmo os fabricantes ‘conservadores’ já desenvolveram ao menos um modelo híbrido, ou elétrico, ou à célula a combustível. Afinal, as qualidades comprovadas no início da sua história – confiabilidade, baixa manutenção, ausência de emissões e de ruído – continuam as mesmas, e fazem deste velho de guerra a melhor opção, tanto para o meio ambiente quanto para as pessoas.