Texto e fotos: Bruno Bocchini

Com mecânica GTI 16v, Saveiro ganha fôlego para acelerar em estradas: são 170 cv de pura insanidade que não param por aí…

A VW Saveiro sempre foi sinônimo de robustez, utilizada para o trabalho pesado na caçamba, ou mesmo para quem gostava de passear aos finais de semana e precisava carregar peso. O problema é que, durante muito tempo, e você deve se lembrar dessa fase, o modelo era muito visado por ladrões e o seguro caminhava para as alturas: uma Saveiro City 1.6 flex 2003 com ar-condicionado e direção hidráulica mantinha seguro na faixa de R$ 4.900 para um morador de São Paulo, casado e com 30 anos. Mais do que ter um carro robusto, os proprietários de modelos Saveiro precisavam manter o coração em dia diante das “facadas” das seguradoras.

Não bastassem as quatro gerações, surgiram ainda várias séries especiais para a Saveiro. A primeira geração começou em 1982 com um motor 1.6 a ar, depois trocado pelo refrigerado a água, até a chegada da segunda geração (chamada de “Bolinha”), em 1997, com motores 1.6 (92 cv), 1.8 (98 cv) e 2.0 (109 cv). Graças aos 24 cm a mais no comprimento, a caçamba ganhou capacidade de carga: subiu de 580 para 700 kg.

A terceira geração apareceria em 2000, em três versões: básica, Comfortline e Sportline. As duas últimas recebiam os mesmos motores 1.8 ou 2.0 – a Sportline trazia ar-condicionado, rodas de liga e faróis de neblina. A Super Surf surgiu em 2003 e tinha suspensão mais alta, para-choques sem pintura e grade e retrovisores cromados. De série, vinha com banco de couro sintético, além dos equipamentos da Sportline. No mesmo ano estreava o motor 1.6 flex (97/99 cv). E é exatamente a versão Super Surf que Armando Gioia, 29 anos, empresário de São Caetano do Sul (SP), optou para adaptar mecânica e extrair doses de adrenalina.

“A ideia em montar uma Saveiro 2.0 16 v já vem de alguns anos. Antes eu tive um Gol 1.6 Mi com cabeçote 16v, uma loucura. Depois esse mesmo carro rodava com uma turbina k16 e 1,2 bar de pressão, chegando a 300 cavalos”, lembra Gioia.

Mas a diversão foi interrompida com uma quebra do motor do Gol. Uma trava de válvula do cabeçote quebrou naquele período e a peça caiu dentro do motor. Como o custo era alto para arrumar e, inviável para Armando naquela fase, – ano 2002 – ele decidiu colocar a mecânica 1.6 8v novamente para vender o carro. “Acabei comprando depois desse Gol uma Saveiro G3 1.8 completa. Minha ideia era montá-la turbo, mas novamente minha situação financeira não colaborava para o projeto. Então fiz um kit turbo básico que rendia 280 cavalos”, comenta.

Armando não é preconceituoso, mas garante que sempre preferiu “abraçar” motores ABF (AP 16V), prova disso é que ele guarda até os dias atuais o primeiro cabeçote que adquiriu. Mesmo depois que vendeu a Saveiro G3, continuou comprando peças das versões GTI da Volkswagen, como câmbio, eixos, tampa de válvula e outras. “Até que apareceu a oportunidade de comprar, no final do ano passado, um Gol G3 vendido em leilão. Não tive dúvida, comprei o carro já pensando em achar uma Saveiro para retomar meu sonho”, explica.

Por meio de consultas na internet, Armando encontrou apenas um modelo de Saveiro G4 com airbag e sistema ABS: tratava-se da versão Super Surf 1.8 flex.

Vem com o “papai”!

Armando é preparador de formação e decidiu tocar o projeto da Saveiro em sua própria oficina. No dia seguinte da compra do modelo já realizou modificações como a instalação de amortecedores Koni com regulagem de pressão, injeção eletrônica Megasquirt, comando de válvulas 0.27h e polia Autotech. Em um dia com o carro, as pequenas alterações já renderiam 134 cavalos. “Andei assim por quatro meses, durante esse período desmontei o motor do Gol GTI e o retrabalhei inteiro. Já o deixei forjado para futuras modificações, como a embreagem de carbono. Quando estava tudo pronto, subi o conjunto inteiro com motor, câmbio, embreagem hidráulica, trambulador, eixo traseiro a disco, tudo do GTI 16v”, detalha o proprietário.

O motor 2.0 16v GTI também conta com pistão Iapel, biela Pauter de 159 mm, O’ring de cilindro Sapinho, polia do comando Autotech e parafusos de cabeçote, volante e mancal ARP. A receita rendeu 170 cavalos à Saveiro, mas outras modificações ainda estão nos planos de Armando. “Já comprei todas as peças para o próximo upgrade. Uma turbina GTX 3076R e wastegate Tial, além dos bicos Injector Dinamics. A ideia é deixar a Saveiro ainda mais invocada”, sugere.

No interior, a picape conta com airbag duplo, ar-condicionado, direção hidráulica, bancos de couro e retrovisores elétricos. Quem observa atrás do banco do passageiro encontra um kit nitro, já acoplado ao assoalho, mas ainda sem função. “Comprei o nitro porque a ideia era rodar com 150 cv até montar a turbina maior, no próximo ano. Mas por enquanto não estou utilizando”, explica.

Se pararmos para pensar que a Volkswagen lançou neste ano os propulsores 1.6 16v para Gol e Saveiro que rendem até 120 cavalos, a picape de Armando está bem avançada. Uma “caçambeira” para alemão nenhum botar defeito. Sehr gut!

Quem fez:

Armando Gioia. Tel. (11) 3427-1361.

Motor

2.0 16v de VW Gol GTI, pistão Iapel, biela Pauter 159 mm, O’ring de cilindro Sapinho, polia do comando Autotech, parafusos de cabeçote, volante e mancal ARP, embreagem e câmbio de VW Gol GTI;

Alimentação

Injeção eletrônica programável Megasquirt-2 4avp plug and play e controlador de sonda banda larga Innovate Motorsport;

Estrutura

Suspensão com amortecedores Koni, freios a disco nas quatro rodas e rodas Sparco com aro 17.

*Texto publicado na edição 183