Na edição impressa, a Car Stereo publicou uma série de artigos sobre o “quality sound”, o som automotivo de qualidade. No primeiro deles, o consultor Fábio Merlino escreveu sobre o conceito de som de qualidade, e abordou aspectos como escolha de equipamentos, custo, etc. Pedimos ao consultor Marcelo Portela, um dos mais respeitados experts do segmento, que respondesse a mais algumas perguntas sobre o tema.

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Qual é a fonte de sinal mais indicada para um sistema de som automotivo que se possa chamar Hi-Fi?

Um CD ou DVD player com um bom pré-amplificador interno. O pré-amplificador é responsável por receber o sinal vindo da conversão digital para analógico, e prepará-lo para as saídas RCA. Um bom sistema vai gerar um sinal RCA acima de 2 Volts, com baixa impedância interna (em torno de 100 Ohms ou menos). Desta forma, o sinal que serve de base para os amplificadores será forte, limpo e livre de ruídos. De nada adianta ter excelentes alto-falantes e amplificadores se o sinal que eles recebem for ruim. Dica: existem aparelhos que têm alta voltagem RCA (até uns 4 Volts), porém com impedância interna muito alta (acima de 10 mil Ohms), o que não é o ideal.

Por que nem sempre é o mais indicado utilizar os locais que as montadoras preservam para os alto-falantes?

Normalmente, as montadoras colocam os alto-falantes onde “cabem”, em vez de onde seria melhor do ponto de vista da acústica. Mas existem casos em que o posicionamento do alto-falante segue a lógica da qualidade de som, principalmente nos veículos mais caros.

A preparação acústica é imprescindível em todos os modelos de carros?

A vantagem da preparação acústica é remover todas as possibilidades de “reflexo sonoro” sendo transmitido através de qualquer outra coisa que não seja o alto-falante. O ideal é que somente o alto-falante produza som, mas, na realidade, tudo o que está próximo dele também vibra e acaba produzindo alguma coisa. Forros de porta, lataria e outros precisam ser “calados” através da colocação de mantas que aumentem seu peso ou diminuam sua capacidade de vibrar.

Qual é a importância de itens como fiação, porta-fusíveis, terminais e outros acessórios?

Na parte de alta-potência, isto é, a alimentação dos equipamentos, a questão principal é a transmissão de grandes amperagens sem perda de energia. Para isto precisamos de cabos grossos, com alto teor de cobre, e de terminais que tenham um excelente contato. Tudo isto para evitar a perda de voltagem que vai diminuir a potência final do sistema. Com o sistema funcionando, uma queda de até 1 Volt é normal, acima disto os cabos, terminais e bateria precisam ser revistos. Já o porta-fusível é uma questão de segurança. Sem ele, o sistema e o carro estão em risco, pois não há proteção contra curto circuito. É obrigatório pelo menos um porta-fusível no cabo principal vindo da bateria.

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Deve-se ou não utilizar equipamentos como processadores de sinal em sistemas de qualidade de som?

Uma boa unidade fonte (CD ou DVD) não precisa de processamento adicional. Pelo contrário, processamento demais pode prejudicar a qualidade do som, ao invés de melhorá-la. Em alguns casos, é impossível resolver o assunto sem um processador, por exemplo, quando o rádio original não pode ser removido ou substituído. Mas, fora destes casos,processador só deve entrar em cena em situações muitoespecificas, por exemplo, para acertar a curva de equalização em um carro que passe por testes de resposta RTA.

É verdade que, quanto menos equipamentos utilizar no sistema, menores as chances de erros? Por que?

Sim, pois diminuem as possibilidades de ajustes incorretos. Além disto, quanto menos equipamentos, menor perda de sinal, menor ruído e menor distorção. Cada equipamento “copia” o sinal original recebido e depois passa adiante. Cada cópia perde um pouquinho da qualidade original, portanto, no final de uma cadeia com cinco ou seis equipamentos, o resultado pode ser pior do que somente com um ou dois equipamentos. O ideal mesmo é unidade fonte, amplificador e falante.

Além de projetar e instalar corretamente os equipamentos, cabe ao instalador a sua regulagem? Por que não deixar isso para o consumidor fazê-lo a seu gosto?

“Regulagem” é uma palavra que não deveria existir em som. É coisa de mecânico de antigamente, vem lá da época do carburador e distribuidor. O que se deve fazer é apenas ajustar o sinal do aparelho à entrada do amplificador (o tal do “ganho”) para que o amplificador gere potência máxima quando o aparelho estiver no volume máximo. Outra coisa que pode ser feita em casos muito complexos é a equalização das faixas de frequência (grave/médio/agudo), mas que só pode ser feita por ouvidos bem treinados ou com a utilização de um RTA.

Como aprender a ouvir o som no carro, acostumar os ouvi-dos a identificar um sistema Hi-Fi?

A primeira sugestão é ouvir muito som acústico ao vivo (orquestra, voz/violão, concerto etc), para acostumar o ouvido com o som natural, sem amplificação.  A segunda é calibrar os ouvidos depois com um sistema top (top mesmo, não é o microsystem do seu cunhado). Estes sistemas custam mais caro do que um carro, são muito grandes para a maioria das salas, mas você ficará de joelhos o dia que puder ouvir um som como este. Geralmente você encontra algo assim em show-room de revendedores de equipamentos Hi-Fi residencial. Outro conselho é ouvir as mesmas músicas sempre, em gravações originais formato CDA (sem compressão, nada de MP3 ou WMA). Escolha uns dois ou três discos de que goste e fique com eles sempre. Não dá para comparar ouvindo uma música diferente a cada vez. Por fim, preste atenção na voz dos intérpretes. É mais fácil perceber problemas na voz pois estamos acostumados a ouvir “ao vivo” o tempo todo. Coisas como excesso de agudo (“chhhhh”) são facilmente percebidos.

Qual é o segredo para dotar um ambiente hostil como um carro, com um sistema de áudio comparável a um bom sistema residencial? Isso é possível?

Ouvir com o carro parado ajuda muito. Motor, ruído de vento e de pneu no asfalto são concorrentes que não dá para derrotar em um carro. Afastar os alto-falantes dian-teiros do ouvinte também ajuda muito. Não exagerar nos graves, pois os carros têm a tendência natural de reforçar frequências baixas entre 40 Hz e 80 Hz (subgrave).

Mas é muito difícil conseguir em um carro o que se consegue facilmente em uma sala normal? Como escolher um instalador de som confiável?

Ouvindo algum sistema automotivo que ele já montou. Se tem ruído de algum tipo, se o amplificador chega no limite enquanto o volume do rádio está baixo, se os graves “cobrem” o resto do som, se o agudo chia, se os equipamentos parecem “jogados” ao invés de instalados etc, é sinal de que o cara não sabe muita coisa. Pode até ter pose de especialista, mas não sabe realmente o que está fazendo. Verificar a qualidade das conexões e acabamentos utilizados também ajuda a ter uma ideia da preocupação com o resultado e do planejamento do sistema. Cabos não podem ter emendas, fios não podem estar aparentes etc.