Mudança do comportamento de “posse do carro” para “cultura da utilização” e o aluguel para motoristas de aplicativos geram aumento de 6,6 milhões de diárias na comparação com 2018

O balanço anual do setor de locação de veículos, divulgado hoje, 17 de março, reforça a mudança de comportamento do consumidor brasileiro em sua relação com o automóvel. Para a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), responsável pelo Censo, o crescimento do número de diárias (43 milhões em 2018 para 49,6 milhões no ano passado) torna nítida a migração da cultura “da posse” para uma nova cultura com foco no pagamento pela “utilização” dos carros.

A associação atribui o novo recorde anual de diárias vendidas pelas locadoras principalmente a dois fatores: ao crescimento da demanda por parte de pessoas que passam a alugar veículos por longos períodos, em vez de compra-los; e, também, à crescente quantidade de locações para motoristas de aplicativos de transporte.

“Esse Censo anual ratifica que o brasileiro, cada vez mais, pensa mais de duas vezes antes de adquirir novos veículos”, avalia o presidente do Conselho Nacional da ABLA, Paulo Miguel Junior. “As vendas ao varejo encolheram nos últimos 10 anos, variando negativamente de 2,8 milhões para 1,5 milhão de automóveis”, lembra ele.

Para Paulo Miguel Junior, as estatísticas da locação de veículos também ajudam a ratificar, com números, essa mudança de comportamento do consumidor. “Até então, a troca do desejo de ter um carro para o interesse em pagar somente pelo seu uso vinha sendo observada apenas como uma tendência de mercado”, diz. “Carro alugado é solução de mobilidade e, a partir da análise do balanço anual do nosso setor, ficou claro que está em curso no Brasil a propagação da cultura de pagar menos pelo uso em vez gastar muito mais para ter a propriedade”.

Aplicativos

Além do aluguel de longa duração para pessoas físicas, a ABLA atribui o recorde de 49,6 milhões de diárias vendidas em 2019 também ao crescimento da demanda por parte de motoristas de aplicativos. “Existe um enorme potencial de crescimento também nesse segmento”, diz Paulo Miguel Junior.

Numa estimativa preliminar da ABLA, da frota total de 997.416 veículos das locadoras, entre 150 mil a 200 mil carros estão alugados para esses motoristas. Para as locadoras, esse mercado representa mais uma oportunidade, mas também adaptações importantes no modelo de negócios para atender a esse tipo de demanda.

“Tornar o negócio mais sustentável se tornou uma grande preocupação do mercado de locação”, explica o presidente da ABLA. “Maior demanda, em um nível de utilização intenso como o dos motoristas de aplicativo, implica em necessidade de renovação da frota em períodos mais curtos, porém nunca antes de 12 meses”.

Compras e faturamento do setor

O segmento de locação de veículos também bateu seu próprio recorde de emplacamentos em 2019. No ano passado, as locadoras compraram 22,8% do total de automóveis e comerciais leves comercializados no país, consolidando o setor como o principal cliente das montadoras. Em números absolutos, o setor de locação foi responsável por emplacar 541.346 unidades em 2019, ante 412.753 automóveis e comerciais leves comprados em 2018.

A frota total das locadoras chegou a 997.416 veículos, um aumento de 171.085 unidades em relação à frota total registrada ao final de 2018 (826.331). O número de locadoras subiu de 8.033 em 2018 para 10.812 ao final de 2019.

A locação diária para pessoas físicas passou a ter 48% de participação na frota total das locadoras, subdivida da seguinte forma: 26% da frota utilizada no turismo de lazer e 22% no turismo de negócios. Já o aluguel para empresas, órgãos públicos (terceirização de frotas), locação de longo prazo para pessoas físicas e para motoristas de aplicativos ficou com 52% de participação dentro da frota total das locadoras.

Quanto ao faturamento bruto anual das locadoras de veículos, em 2019 o setor atingiu R$ 21,8 bilhões, enquanto o faturamento líquido foi de R$ 19 bilhões. Em 2018, o faturamento bruto do setor havia sido de R$ 15,3 bilhões, com faturamento líquido de R$ 13,9 bilhões.

Marcas mais procuradas pelas locadoras

Pelo quarto ano consecutivo, o Grupo General Motors ocupou a liderança do ranking dos automóveis e comerciais leves zero km mais emplacados pelas locadoras em 2019, com participação de 24%, o que equivale a 130.424 unidades vendidas ao setor de locação. O ranking das maiores montadoras por vendas ao setor de locação em 2019 tem ainda, na sequência, FCA (19,86%), Volkswagen (19,47%), Renault (13,91%) e Ford (12,74%).

Geração de empregos

A publicação trouxe pelo terceiro ano consecutivo o total de empregos diretos no setor de locação em cada estado da Federação. No âmbito nacional, o número de empregos diretos atingiu 75.104 postos de trabalho, variação positiva de 3.497 vagas a mais do que em 2018.

Critérios e fontes

O Censo do setor utilizou dados estatísticos de frota de veículos coletados diretamente pelo SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados), empresa autorizada pelo DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito). A auditoria dos dados referentes aos números de locadoras, faturamento, impostos, usuários e frota total ficou aos cuidados da Grant Thornton Brasil.

As estatísticas referem-se às locadoras cujos registros da atividade, no Ministério da Economia, têm enquadramento dos CNAE 7711-0/00 (locação de veículos sem motorista) e CNAE 4923-0/02 (locação de veículos com motorista). Trata-se das chamadas locadoras que atuam somente com a atividade de locação de veículos, com CNPJ ativo na Receita Federal, frota registrada nos órgãos competentes de Trânsito e com CNAE primário 7711-0/00 ou 4923-0/02.