Ícone popular quando as rodas ainda eram de madeira, modelo T é revigorado com mecânica 4cil e dupla carburação
Texto: Bruno Bocchini
Fotos: Ricardo Kruppa
No Brasil são mais de 50 milhões de idosos, desses, 33 milhões recebem aposentadoria pelo INSS. No Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, lembrado hoje, 15 de junho, Car Stereo decidiu conta a história de um “senhor” que marcou época: o Ford T. Acompanhe!
Passear sem pressa. Aproveitar cada momento sabendo que, de algum modo, tudo o que nos cerca faz parte de uma história que mudou a vida das pessoas. É como reaprender, sem ir à escola, fazendo a “lição de casa” na rua. Antonio Carlos Marin, 54 anos, administrador de São Paulo, mantém essas ações diante do modelo Ford T – vigésimo projeto da marca, a partir de 1903, produzido por 19 anos entre 1908 e 1927. O “T” popularizou o automóvel e, frequentemente, ainda “faz a cabeça” de entusiastas que preferem escapar da modernidade para abraçar a memória.
“Sempre achei esse modelo muito charmoso. E, depois de insistir por três anos, um amigo, o Duílio, vendeu o T para mim. Quando o comprei ele era todo original, inclusive com as rodas de madeira”, conta Marin.
Nos primeiros anos de produção do modelo T, as rodas eram feitas de madeira, depois passaram a ser de ferro. Os pneus eram pretos, mas o consumidor poderia escolher a opção com a roda de faixa branca. À época, cada funcionário era responsável por uma fase da produção, em 84 etapas distintas. Os primeiros operários da linha fixavam os suportes dos para-lamas à estrutura do chassi. Para reduzir a dependência de mão-de-obra qualificada, as peças eram intercambiáveis e podiam ser facilmente montadas por operários não qualificados. Essa simplicidade durante a etapa de produção do modelo ainda é vista no Ford de Marin, mas com algumas doses de novidade.
Quer um toque clássico? A capota manteve a originalidade, assim como a carroceria tradicional, mas o chassi foi refeito pela equipe da Hot & Customs, de São Paulo. Marin optou por deixar o “T” um carro possível para rodar nas ruas (esburacadas ou não). “É evidente que sempre é necessário fazer alguma alteração, adaptação de alguma peça. Esse é o cuidado que todos os entusiastas têm com seu automóvel. Não foi diferente nesse projeto. Procurei reforçar a estrutura para que o ‘T’ pudesse acompanhar a evolução, mas sem perder a identidade famosa”, explica.
Diante das alterações, mecânica, suspensão e rodas passaram por reestruturação. Marin optou pelo bloco de Chevrolet Opala 4cc versão 151S – essa configuração se difere das demais mecânicas de Opala porque conta com carburador duplo Weber 446 e coletor de alumínio. O 2.5L esbanja vigor acoplado ao câmbio manual também do modelo Opala. “Essa foi a maior dificuldade do projeto, adequar a base mecânica para esse cofre do Fordinho. Um amigo (Enio) foi o responsável por ajudar com esses ajustes. Depois os demais movimentos foram naturais”, relata Marin.
Calhambeque “came back”
Quem não se lembra do desenho “Corrida Maluca” e a famosa “Quadrilha de Morte” chefiada por Clyde e seu fiel calhambeque Chugabum? Antonio Marin, durante a infância, adorava assistir ao desenho e, em soma com os gibis, reverenciava os Fordinhos que ajudavam personagens durante alguma fuga. “Parte deste Ford T revive esse tempo para mim. É como voltar à infância. Esse automóvel é memória pura”, sugere.
Das telas que exibiram “Pato Donald”, “Zé Carioca” e “Vovó Donalda”, para a garagem Marin Olds, espaço que Antonio Marin guarda relíquias sobre quatro rodas, o Fordinho sempre está presente e, até do passado, procura o futuro. “É claro que eu sou um negociador. Fico com os carros, curto cada um, cada momento com eles, depois vendo, compro outro, em algumas ocasiões compro novamente o carro que já tinha. É assim. Mas certamente o T marca muito a vida de quem pode ter a oportunidade de mantê-lo na garagem”, explica.